quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti sem Estado

O Estado não foi uma criação gratuita da sociedade. Por milênios a humanidade desconheceu a necessidade de Estado. Esse longuíssimo período histórico passou a ser conhecido como comunismo primitivo que se caracterizava pela ausência da propriedade privada e, portanto, de classes socias. Com o advento da propriedade privada e da consequente divisão da sociedade em classes, fez-se necessário esse instrumento de poder político que se chama Estado e sua função era e é garantir a desigualdade social, reprimindo qualquer manifestação de descontentamento.
O padre Aristides, eleito Presidente do Haiti, decretou o fim do Exército e da Polícia, esteios do Estado. Esse gesto deveria fazer a alegria dos anarquistas que se contrapõem, pura e simplesmente, à existência do Estado. Praticamente sem Estado, o Haiti continuou miserável e a burguesia local continuou desfrutando de suas regalias. Diante da catástrofe sísmica que se abateu sobre o Haiti, a ausência parcial do Estado tem se apresentado como razão de dificuldades para administrar o descontrole social reinante.
Diferentemente dos anarquistas, os marxistas têm a compreensão da necessidade de um Estado anti-Estado. Isso se dá porque a revolução social não permite um imediato estabelecimento da igualdade. Daí a necessidade de se construir um Estado cuja tarefa é planejar a economia de modo a conquistar o nivelamento, ou seja, o desaparecimento de classes socias, o que redundará na supressão do Estado, vez que ele se torna desnecessário, obsoleto.
Em um quadro de acentuada desigualdade, como é no Haiti, torna-se imprescindível o Estado para evitar transtornos maiores, seja esse Estado burguês ou, no melhor das hipóteses, um Estado dos trabalhadores e o Haiti, atualmente, está privado desse instrumento em qualquer versão e isso tem agravado a situação de descontrole social.
Urge que se criem, imediatamente, no Haiti, mecanismos de organização da sociedade que, nas circunstâncias atuais, dificilmente poderia ser um governo do povo.

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