terça-feira, 15 de março de 2011

O avesso da lição

Quando, aos dezesseis anos de idade, passei a me interessar intensivamente pelas questões políticas, encontrei o PCBão. Seria o partido-escola que ensinaria a repudiar a sociedade vigente e a lutar por justiça e paz.

O caminho do aprendizado era a leitura, a polêmica constante, a disputa diária, o embate com posições consideradas conservadoras. Essa era a trilha do aprendizado que se prestava a formar militantes, fosse no trabalho de panfletagem, de pichação, de discursos relâmpagos, da presença em portas de fábricas, sítios e fazendas.

A queda do Muro de Berlim pareceu a muitos que houve uma reviravolta qualitativa. Isso não! Aquele evento representou apenas a ruína do velho discurso das “esquerdas” que consistia em dizer que o mundo estava divido entre o mundo capitalista decadente e o mundo socialista ascendente. Esse discurso era fraudulento, e a queda do Muro representou o fim dessa fraude e a esquerda ficou desprovida de mensagem.

Face tal situação o velho conhecimento “marxista-leninista” sumiu, deixando um vazio que passou a ser ocupado, desastrosamente, pelas academias burguesas. Ora, essas instituições, assim como outras instituições de classe, existem para servir a um só senhor: o capitalismo. É claro que nas escolas há maiores espaços para se estabelecer a polêmica política, bem mais espaço do que existe nas instituições policiais, por exemplo. Entretanto, não se pode esperar que da escola “aberta e progressista” possa ressurgir o socialismo, quase completamente sepultado pelos longos anos de hegemonia stalinista.

Frisemos o fato que antes, o caminho do aprendizado pretensamente socialista, era a militância tenaz, fosse na prática, fosse na polêmica, fosse nas leituras. Hoje, para se ser um socialista, basta alisar os bancos das academias, postular suas graduações e ser aquinhoado com o título de cientista político-social, mesmo que esses senhores sejam incapazes de distinguir, minimamente, a diferença primária que existe entre governo e poder. Houve assim, para pior, uma inversão de caminhos.

Um comentário:

  1. É caro Gilvan, poucos sabem distinguir "poder" e "governo"! Poder esta no sistema em si (capitalismo), já governo pode ser representado por pessoas. Vemos muito se falar em MUDANÇA, mas mudança de quer? De governo? E o poder?
    De que adianta mudar o governo se não mudar o poder exerciido sobre ele! Temos que ter noção de que mdança só se dara de fato quando mudarmos a forma de poder e não os gerenciadores desse poder.

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