terça-feira, 6 de março de 2012

O TAMANHO DO CÉU




            Abri as páginas do jornal fortalezense O POVO, e lá estava a fotografia de uma senhora, seguida de um depoimento: “passei toda minha vida morando em favelas, junto a insetos, lama e esgoto a céu aberto. Entrei para o programa Minha Casa, Minha Vida, administrado pelo Governo do Estado do Ceará, e tive a sorte de ser contemplada com uma das 300 unidades de moradia que haviam sido construídas sob a gestão desse governo. Estou me sentindo feliz em ter uma casa de alvenaria com 42m². Descobri que esse é o tamanho do céu para os milhões de miseráveis que, como eu, habitam as favelas mundo afora. Seja nas Américas, na Ásia, na África e hoje, também, na Europa. Logo percebi que o céu tinha um tamanho reduzido e mesmo assim com essa redução e outras precariedades, é para mim a conquista do paraíso. Aliás, digo, paraíso em termos de moradia, mesmo minguada. Entretanto, o meu desemprego constante e a situação do meu marido, que vive catando lixo, enquanto os filhos andam na rua exibindo seus trapos, faz com que eu me dê conta de que a minha minúscula casa não pode, nem poderá ser a minha vida, como tentam nos fazer crer as múltiplas propagandas.”
            Bem diz uma professora que mora no bairro: o sistema que nós vivemos, dividido em classes e camadas sociais, ou melhor, dividido entre pobres e ricos, não poderá nunca nos oferecer o paraíso, pois este já está reservado a uma minoria de ricos que usufruem de uma vida de bonança, bem abrigados e rodeados de segurança, isso para não dizer que, enquanto isso, nossos filhos perambulam pelas ruas desse novo bairro e os filhos dos ricos usufruem escolas de boa qualidade e conforto.
            Antes feliz, agora vejo que Minha Casa, Minha Vida, é um descaramento, pois não é possível admitir a felicidade reduzida a um cubículo de tão pouca dimensão. Assim sendo, ao invés de me enganar pretendendo ter conquistado o paraíso na terra, o correto é denunciar a trapaça que leva avante esse sistema capitalista administrando a pobreza e a miséria com migalhas e enganações.

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