quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Para quem governar?




            De certa feita, um dado senhor, leitor compulsivo e bibliomaníaco, proferiu a seguinte afirmação: “A questão não está em quem governa e sim para quem se governa”. Tal afirmação revela o alto grau que pode chegar a ignorância bem letrada. Governar não é um ato de vontade, é um ato de poder e o poder político que preside o ato de governar, está reservado a uma instituição chamada Estado.
            O Estado passou a existir no momento histórico em que adveio a propriedade privada e a sua função é, fundamentalmente, de proteger e assegurar os interesses de uma classe em detrimento de outra. Em decorrência desse fato é que se afirma ser o Estado, na sua essência, um instrumento de dominação política. Nos milhares e milhares de anos das sociedades primitivas, que desconheciam a propriedade privada, desconhecia-se, também, a existência de classes e camadas sociais e dessa forma, desconhecia-se esse instrumento de poder, o Estado.
            No capitalismo, temos o Estado burguês e ele se presta à defesa dos interesses dessa classe sobre o conjunto da sociedade. As instituições básicas do Estado não são postas em disputa nos processos eleitorais. Os governos eleitos para os chamados cargos executivos, são eventuais gestores dos negócios e das políticas consonantes aos interesses maiores da classe burguesa e nada poderá ser implementado que afronte esses interesses.
            Alguns governos se posicionam como se governassem para os pobres e excluídos. Têm-se, na História do Brasil, a figura de Getúlio Vargas que, buscando adequar-se à modernização do capitalismo, promulgou leis trabalhistas, de cunho protecionista, e com isso conseguiu cooptar, politicamente, os trabalhadores que o viam como o “pai dos pobres”, evitando ver, sobretudo, que ele era a “mãe dos ricos”.
            Anos depois, José Sarney, presidente, tentou se colocar como governo do povo, imprimindo o jargão “Tudo pelo Social”, enquanto viabilizava um programa de distribuição gratuita de leite para as crianças carentes. O governo Sarney, porém, fracassou nos seus propósitos populistas.
            Por fim, veio Lula da Silva, massificando uma política assistencialista, por via do Bolsa Família, enquanto engessava as centrais sindicais e estudantis, garantindo, através disso, a paz social propícia para a tranquilidade, tão ao gosto da burguesia.
            Nessas experiências, salienta-se o conteúdo fraudulento dos discursos que propõem governos populares, no âmbito do capitalismo. A História nega, peremptoriamente, a possibilidade de se governar para o povo, quando de fato governa-se para os ricos, para a burguesia.

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