segunda-feira, 25 de março de 2013

Em defesa da vida



                                  


Está em andamento a discussão sobre o aborto. Infelizmente ela não transcorre de modo honesto. Criam-se movimentos que levantam a bandeira de defesa da vida, insinuando, maldosamente, que quem se coloca pela legalização do aborto estaria atentando contra a existência humana. Ora, ninguém em sã consciência, poderia se colocar contra a vida. Em princípio, somos todos contra o aborto, como somos contrários à amputação de uma perna ou de um braço. A questão, portanto, não é dividir a opinião pública em duas grandes correntes: os que são a favor da vida e os que atentam contra ela. Esse dilema é falso, é desonesto e não seria, a rigor, tão cristão, pois escamoteia a verdade.
Quando se defende o aborto assistido, pretende-se evitar a hipocrisia e defender a vida de milhares de mulheres pobres que, por várias razões, são levadas a esse extremo. Legalizar o aborto é evitar a carnificina que se pratica diuturnamente contra a mulher desprovida de recursos, quando são submetidas a incursões nada profissionais dos charlatães do ofício.
O aborto assistido, de forma competente, é sim, uma atitude humanitária que se quer levar a cabo superando a hipocrisia reinante por conta de uma cultura que, há milênios, está a serviço do atraso, do obscurantismo e da injustiça social.
Caso na verdade esses senhores e piedosas senhoras, que se arvoram defensores da vida, quisessem realmente lutar por ela, deveriam serrar fileiras na luta explícita contra o capitalismo, esse, sim, destruidor de vidas. Entretanto, contra o capitalismo não se ouve, por parte deles, nenhum protesto, nenhum murmúrio. Aliás, a nossa milenar cultura se omite diante da questão maior e desvia as atenções para os efeitos, escamoteando as causas e investindo na salvação de suas almas.
Diante da fome, organiza-se uma sopinha. Diante do frio, faz-se uma campanha pelo cobertor. Diante das drogas, salvam-se uns poucos através da dança, da música, do trabalho manual e das orações. Termina-se praticando o varejo, quando necessitamos combater no atacado, denunciando o capitalismo.

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