Louvável, justo e oportuno, nos
parece, o movimento “Fortaleza Apavorada”. Trata-se de uma iniciativa de
pessoas, de classe média, que afetadas pela violência, resolvem sair às ruas e
clamar por segurança. É um movimento que tem bastante abrangência, entretanto,
merece que os seus partícipes atentem para alguns fatos da nossa realidade.
Primeiro, não basta reclamar uma Fortaleza
apavorada, pois temos um mundo em pavor, decorrente da violência urbana, dos
conflitos armados, como as guerras civis da Síria e do Iraque. Por sua vez, nos
apavoram as agressões constantes contra o meio ambiente, colocando em risco a
sobrevivência da própria humanidade. Todo esse quadro apavorante, deve ser
debitado ao sistema capitalista.
No seu nascedouro, esse sistema foi
deveras progressista, rompeu com as amarras e o obscurantismo da Idade Média,
para promover um surto de desenvolvimento e avanços tecnológicos. Após esse
momento progressista, o capitalismo entrou em um processo de exaustão, calcado
no princípio da busca incontida do lucro para uns poucos. O referido sistema
socioeconômico, hoje, produz incontáveis e graves mazelas sociais.
Assim sendo, uma luta consciente
contra a violência urbana, deve estar associada a uma luta contra o próprio
capitalismo, matriz de tantos e quantos infortúnios. É evidente que a luta
imediata, deve ser a reivindicação em torno de medidas que sirvam, pelo menos,
para diminuir o grau de insegurança em que vivemos. Políticas de caráter
social, como a implementação de programas educativos, o estímulo às práticas
esportivas, a qualificação profissional dos jovens, o engajamento das
comunidades no esforço concreto por uma convivência pacífica, são caminhos e
veredas que não podem ser descuradas em nossa jornada pela paz.
Entretanto, não podemos cultivar
esperanças de que iniciativas simbólicas, como as constantes e enormes revoadas
de pombas brancas, possam mudar a face real dos nossos problemas. Fortaleza
apavorada, periferia massacrada, mundo em crise, eis o quadro que temos pela
frente e devemos enfrentá-lo com coragem e, sobretudo, com clareza, para não
mergulharmos nas vias das ilusões.
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