Um dos problemas dos
teóricos e do senso comum é não saber estabelecer a diferença entre mudanças
quantitativas e qualitativas. Para efeito didático, existe o clássico exemplo
do papel. Diz-se que, com uma folha de papel e uma tesoura, podemos promover
infindas mudanças formais. Teríamos o papel na forma retangular e, processada
uma mudança na forma, passaríamos a ter um papel triangular. E assim, sucediam-se
reformas e reformas, entretanto conservando-se a qualidade, papel.
Lançando mão desse exemplo,
poderíamos dizer que, ateado fogo ao papel, dar-se-ia a transformação, a
mudança qualitativa, pois o papel tornar-se-ia cinza. Justamente por não
perceber o caráter das mudanças quantitativas e as qualitativas, é que se deu a
proposta do socialista alemão Eduardo Bernstein, em propor uma revisão do
marxismo sob o argumento de que o mundo mudou com o advento do capitalismo
imperialista. Tratava-se de uma mudança de grau, uma mudança quantitativa, mas
trouxe elementos desconhecidos e isso atordoou a mente de alguns teóricos, como
costuma acontecer.
Vemos, para citar outro
caso, a confusão que reinou diante da potencialização do capitalismo em sua
fase mais aguda de globalização. Essa mudança de grau, de intensidade, gerou um
clamor. Nossos teóricos não se deram conta de que a globalização é própria do
capitalismo e, já no mercantilismo houve uma ação globalizante com os
descobrimentos marítimos.
Por sua vez, muitos
pensadores não atentam para o fato de que, superlativamente mais globalizante,
é a proposta socialista. O mundo mudou, é verdade, porém o mundo capitalista
continua, qualitativamente, o mesmo. Trata-se de um sistema sócio econômico
cuja característica central é a existência de uma classe dona dos meios de
produção e de outra classe que só dispõe de sua força de trabalho, para vendê-la
como mercadoria, em troca de salários. Além dessa característica, o capitalismo
continua, de forma desvairada e permanente, buscando o lucro para uma minoria.
Ele mantém os seus traços essenciais. A sua história é dotada de permanentes
mudanças, no entanto, nenhuma delas, até hoje, de natureza essencial, ou seja,
de caráter qualitativo.
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