segunda-feira, 29 de julho de 2013

O mundo mudou

Um dos problemas dos teóricos e do senso comum é não saber estabelecer a diferença entre mudanças quantitativas e qualitativas. Para efeito didático, existe o clássico exemplo do papel. Diz-se que, com uma folha de papel e uma tesoura, podemos promover infindas mudanças formais. Teríamos o papel na forma retangular e, processada uma mudança na forma, passaríamos a ter um papel triangular. E assim, sucediam-se reformas e reformas, entretanto conservando-se a qualidade, papel.
Lançando mão desse exemplo, poderíamos dizer que, ateado fogo ao papel, dar-se-ia a transformação, a mudança qualitativa, pois o papel tornar-se-ia cinza. Justamente por não perceber o caráter das mudanças quantitativas e as qualitativas, é que se deu a proposta do socialista alemão Eduardo Bernstein, em propor uma revisão do marxismo sob o argumento de que o mundo mudou com o advento do capitalismo imperialista. Tratava-se de uma mudança de grau, uma mudança quantitativa, mas trouxe elementos desconhecidos e isso atordoou a mente de alguns teóricos, como costuma acontecer.
Vemos, para citar outro caso, a confusão que reinou diante da potencialização do capitalismo em sua fase mais aguda de globalização. Essa mudança de grau, de intensidade, gerou um clamor. Nossos teóricos não se deram conta de que a globalização é própria do capitalismo e, já no mercantilismo houve uma ação globalizante com os descobrimentos marítimos.

Por sua vez, muitos pensadores não atentam para o fato de que, superlativamente mais globalizante, é a proposta socialista. O mundo mudou, é verdade, porém o mundo capitalista continua, qualitativamente, o mesmo. Trata-se de um sistema sócio econômico cuja característica central é a existência de uma classe dona dos meios de produção e de outra classe que só dispõe de sua força de trabalho, para vendê-la como mercadoria, em troca de salários. Além dessa característica, o capitalismo continua, de forma desvairada e permanente, buscando o lucro para uma minoria. Ele mantém os seus traços essenciais. A sua história é dotada de permanentes mudanças, no entanto, nenhuma delas, até hoje, de natureza essencial, ou seja, de caráter qualitativo. 

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