Pescar caranguejos
Após mais de cinquenta anos de militância socialista, estamos cada dia
mais convencidos de que fazer política é como pescar caranguejos. Isso implica
em dizer que, como para pescar caranguejos, temos que botar a mão na lama. Fazer
política, na nossa realidade, aqui e alhures tem muita semelhança. E não é só a
política de direita que é marcada por truques, calúnias, mentiras e outros
expedientes nada éticos. Na esquerda de matriz stalinista, incluindo-se aí ou,
sobretudo, os ditos grupos trotskistas, os métodos condenáveis são praticados
abundantemente. Mas o que devemos fazer diante desse quadro nada auspicioso
para os que querem participar ativamente da vida política? Muitos se isolam sob
o argumento de que detestam essa convivência tão nefasta. Porém, esse, ao nosso
ver, não deve ser o caminho das pessoas decentes que têm clareza da grave
situação que vivemos, tanto aqui, como em escala mundial.
A única saída, no que pesem nossos escrúpulos, é meter a mão na lama da
política e procurar retirar desse lamaçal, resultados que sirvam para o grande
propósito de libertação humana das garras de um capitalismo exaurido e,
francamente, predatório.
Em outras palavras, é preciso termos consciência de que os problemas
sociais são de natureza política. Tomemos como exemplo a fome, esse mal mais
antigo que o próprio homem, que poderia ser solucionado, pois dispomos de
condições técnicas e científicas para abolir essa chaga da face da terra, em
questão de pouco tempo. No entanto, a fome persiste, castigando pessoas. Alguns,
pouco avisados, procuram diminuir os seus efeitos, promovendo campanhas
minúsculas de combate à fome que se caracterizam por sua inegável insuficiência.
Outro exemplo que poderíamos citar é a questão ambiental. É um erro, um
grave erro, imaginar que tal questão pode ser resolvida no âmbito do
capitalismo, com algumas leis proibitivas de ações predatórias do meio ambiente.
Essa questão é, sobretudo, de natureza política. É preciso que a humanidade se
dê conta de sua gravidade e tome nas mãos o destino do planeta.
Tomados esses dois exemplos emblemáticos, fácil fica ver a importância da
ação política transformadora, revolucionária. Assim sendo, apesar de nossas
escusas, outro caminho não há, senão encarar os dissabores que se colocam no
caminho de nossas militâncias e persistir lutando. Não podemos, portanto,
arredar do lamaçal político e, sim, enfrentá-lo, separando a lama do saboroso
caranguejo.
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