quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Vendedores de ilusões




Vendedores de ilusões


           O sistema capitalista sustenta-se vendendo doses cavalares de ilusões. Não bastasse propagar que, através do supremo esforço individual, pode-se “vencer na vida”, difunde a maior de todas as fantasias quando coloca na cabeça do povo que as mazelas sociais podem ser solucionadas no capitalismo. Dizem eles: o sistema é bom, tudo é uma questão de governo. Caso tenhamos governos com compromisso popular, honestos e competentes, tudo será resolvido. Esse discurso é totalmente falso. O correto seria dizer: no capitalismo não há salvação, independentemente de governos.
          O atual sistema socioeconômico é, portanto, um eterno vendedor de fantasias. A desigualdade e as injustiças que lhe são próprias não poderiam permanecer não fosse o uso desbragado da mentira. Daí se dizer que a verdade política é revolucionária. Mas quem ousa dizer a verdade? Quem se dispõe a desfazer ilusões? Esse seria o papel que as esquerdas deveriam desempenhar. Aconteceu, no entanto, a maior das tragédias históricas: a velha esquerda, por sua imensa maioria, cedeu ao discurso burguês e tornou-se, também, vendedora de ilusões. Diz essa esquerda majoritária: eles governam mal. De nossa parte, temos a fórmula ideal de um governo salvador.
       Foi embalado por esse discurso que, na quarta tentativa, elegeu-se Lula para Presidente. Acreditava-se que ele resolveria os problemas sociais. Ao invés disso, o eleito enquadrou-se ao sistema e passou a governar os interesses do capitalismo. Veio, então, a gritaria de alguns: Lula traiu! Sem querer discutir o papel pernicioso do PT, haveremos de lembrar que, um governo popular, quando eleito, tem dois destinos: enquadra-se ao sistema e convive com o poder burguês ou conflita com ele e será deposto. Daí o perigo do discurso de que houve traição, pois vem a ilusão de que poderemos eleger outro governo que não trairá e tudo será resolvido. Isso não é verdade. Devemos insistir, pois, que a questão é do sistema e não de governo. Por sua vez, devemos atentar para o fato de que o único caminho contra o poder burguês deverá ser a criação de um organismo de poder popular ou estamos nos comportando como meros vendedores de ilusões.
            Enganar é o inarredável papel da burguesia. Ela não poderá ter outro discurso que não seja o da mentira. Trágico é que, a esquerda, por sua maioria, professe o mesmo discurso enganoso. Uma verdadeira esquerda tem o papel de denunciar o capitalismo e sua inviabilidade. Isso não quer dizer que não devemos participar do processo eleitoral. Devemos participar, sim, entretanto, com o propósito único de dizer a verdade, pois só ela haverá de levar o povo à sua libertação.


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