sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Condições objetivas



Condições objetivas

                Caro camarada,

            Permita-me fazer uso de uma imagem simples para que eu possa transmitir o conceito de condições objetivas. Tudo que se vá fazer é necessário que hajam as condições objetivas e subjetivas para fazê-lo. Um bolo, por exemplo. Para fazê-lo, necessitamos das condições objetivas, isto é: fogão, panelas, farinha, ovos, sal, açúcar... junto a isso, são necessárias as condições subjetivas, isto é: saber fazer. Quando dispomos apenas das condições objetivas ou apenas do saber, não teremos êxito.
            Quando Marx disse, em 1871, que o proletariado parisiense quis tomar os céus de assalto, pretendeu dizer que ainda não existiam as condições objetivas para o advento de uma nova ordem econômica e social. Objetivamente, o capitalismo ainda estava em desenvolvimento, não havia atingido a plenitude, tinha ainda um caráter progressista. Posteriormente, Lenine afirmou que a fase imperialista do capitalismo era a sua fase superior e última. Supunha-se que havia se dado as condições objetivas para a viabilização da proposta do socialismo.
            A Primeira Guerra Mundial foi expressão das contradições do capitalismo imperialista. Naquela ocasião, o movimento socialista, através de alguns dos seus segmentos revolucionários, propôs transformar o embate bélico em insurreições proletárias. Mas o jogo político é algo que não se joga sozinho. Então, em 1912/13, travou-se uma luta entre a proposição política da burguesia imperialista, levantando a bandeira da defesa da pátria, e os setores revolucionários, clamando para que o proletariado voltasse as suas armas contra a burguesia e promovesse a vitória do socialismo.
            Nesse confronto político venceu, acachapantemente, a burguesia imperialista, que conseguiu transformar partidos socialistas em partidos social-patriotas. Eis aí o ponto fulcral de nossa tragédia, pois, derrotada a revolução socialista, a contrarrevolução se impôs e se consolidou em escala mundial, apoiada em duas grandes forças: a direita explícita e a direita travestida de esquerda, usando o carimbo do “marxismo-leninismo” e, até mesmo, do “marxismo-leninismo-trotskismo”. Por decorrência, a Terceira Internacional foi transformada na maior multinacional da contrarrevolução.
            Assim sendo, ouso dizer que a crise da humanidade é de natureza política, uma vez que, somente através da saída socialista, poderemos evitar o desastre. Não é à toa que padecemos de um grau tão profundo de raquitismo político, de confusão generalizada. Atravessamos mais de noventa anos de hegemonia stalinista que, através de seus múltiplos instrumentos, semeou o equívoco, a lenda, o atraso, a mentira, a fantasia, e desconstruir tal herança não é tarefa fácil. Não é da Academia que deverá brotar a resposta para a nossa crise teórica. Dessa mata não poderá sair coelhos, dada a própria natureza dessa instituição.
            Perguntas como: o que realmente foi o nazifascismo? O que foi o maoísmo? O que foi a ridícula formulação da “guerra popular e prolongada”? E a tese do “caminho pacífico para o socialismo”? E o golpe contrarrevolucionário de 1964, no Brasil? O que ocorreu em 1965, na Indonésia? E o Chile, em 1973? E a guerra civil espanhola, com o assassinato dos dirigentes do POUM pelos agentes da Terceira Internacional? Será que o sr. István Mészaros, ocupado com o “para além do capital”, responderá essas questões? Ou será que Slavoj Zizek e o seu “marxismo psicanalítico” haverá de vir em nosso socorro?
            Não, “dessa mata não saem coelhos”. O caminho é outro. É na História que haveremos de encontrar respostas para questões tão graves. Não dizemos, com isso, que as questões da filosofia e da economia, são desprezíveis. Mas, reconhecemos que nas águas distantes da História velejam subjetivismos estéreis, que muito bem se prestam a conferir títulos e louvores a uma plêiade de pessoas que disso se nutrem, sem nos prestar a grande colaboração necessária, que seria a elucidação desses “mistérios”, quando estamos frente ao dilema: “decifra-me ou te devoro”.

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