Condições objetivas
Caro camarada,
Permita-me fazer uso de uma imagem
simples para que eu possa transmitir o conceito de condições objetivas. Tudo
que se vá fazer é necessário que hajam as condições objetivas e subjetivas para
fazê-lo. Um bolo, por exemplo. Para fazê-lo, necessitamos das condições
objetivas, isto é: fogão, panelas, farinha, ovos, sal, açúcar... junto a isso,
são necessárias as condições subjetivas, isto é: saber fazer. Quando dispomos apenas das condições objetivas ou
apenas do saber, não teremos êxito.
Quando Marx disse, em 1871, que o
proletariado parisiense quis tomar os céus de assalto, pretendeu dizer que
ainda não existiam as condições objetivas
para o advento de uma nova ordem econômica e social. Objetivamente, o
capitalismo ainda estava em desenvolvimento, não havia atingido a plenitude, tinha
ainda um caráter progressista. Posteriormente, Lenine afirmou que a fase
imperialista do capitalismo era a sua fase superior e última. Supunha-se que havia
se dado as condições objetivas para a viabilização da proposta do socialismo.
A Primeira Guerra Mundial foi
expressão das contradições do capitalismo imperialista. Naquela ocasião, o
movimento socialista, através de alguns dos seus segmentos revolucionários,
propôs transformar o embate bélico em insurreições proletárias. Mas o jogo
político é algo que não se joga sozinho. Então, em 1912/13, travou-se uma luta
entre a proposição política da burguesia imperialista, levantando a bandeira da
defesa da pátria, e os setores
revolucionários, clamando para que o proletariado voltasse as suas armas contra
a burguesia e promovesse a vitória do socialismo.
Nesse confronto político venceu,
acachapantemente, a burguesia imperialista, que conseguiu transformar partidos
socialistas em partidos social-patriotas.
Eis aí o ponto fulcral de nossa tragédia, pois, derrotada a revolução
socialista, a contrarrevolução se impôs e se consolidou em escala mundial, apoiada
em duas grandes forças: a direita explícita e a direita travestida de esquerda,
usando o carimbo do “marxismo-leninismo” e, até mesmo, do
“marxismo-leninismo-trotskismo”. Por decorrência, a Terceira Internacional foi
transformada na maior multinacional da
contrarrevolução.
Assim sendo, ouso dizer que a crise
da humanidade é de natureza política,
uma vez que, somente através da saída socialista, poderemos evitar o desastre.
Não é à toa que padecemos de um grau tão profundo de raquitismo político, de
confusão generalizada. Atravessamos mais de noventa anos de hegemonia
stalinista que, através de seus múltiplos instrumentos, semeou o equívoco, a
lenda, o atraso, a mentira, a fantasia, e desconstruir tal herança não é tarefa
fácil. Não é da Academia que deverá brotar a resposta para a nossa crise
teórica. Dessa mata não poderá sair coelhos, dada a própria natureza dessa
instituição.
Perguntas como: o que realmente foi
o nazifascismo? O que foi o maoísmo? O que foi a ridícula formulação da “guerra
popular e prolongada”? E a tese do “caminho pacífico para o socialismo”? E o
golpe contrarrevolucionário de 1964, no Brasil? O que ocorreu em 1965, na
Indonésia? E o Chile, em 1973? E a guerra civil espanhola, com o assassinato
dos dirigentes do POUM pelos agentes da Terceira Internacional? Será que o sr. István
Mészaros, ocupado com o “para além do capital”, responderá essas questões? Ou
será que Slavoj Zizek e o seu “marxismo psicanalítico” haverá de vir em nosso
socorro?
Não, “dessa mata não saem coelhos”. O
caminho é outro. É na História que haveremos de encontrar respostas para
questões tão graves. Não dizemos, com isso, que as questões da filosofia e da
economia, são desprezíveis. Mas, reconhecemos que nas águas distantes da
História velejam subjetivismos estéreis, que muito bem se prestam a conferir
títulos e louvores a uma plêiade de pessoas que disso se nutrem, sem nos
prestar a grande colaboração necessária, que seria a elucidação desses
“mistérios”, quando estamos frente ao dilema: “decifra-me ou te devoro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário