segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Trotsky, o bíblico



Trotsky, o bíblico

            Temos dito que existiram dois Trotsky. O primeiro escreveu o valioso ensaio “Nossas Tarefas Políticas”, em 1904, em que tecia, profeticamente, críticas à proposta leninista de partido, acusando-a de levar ao substituísmo. O segundo, foi o que aderiu ao leninismo e contribuiu, com seu talento, para a construção e consolidação deste mesmo substituísmo, antes denunciado como nefasto. Mas, os pecados do segundo Trotsky foram bem além. Foi ele co-partícipe das propostas que suprimiram a liberdade e impuseram o monolitismo e o partido único.
           As medidas patrocinadas por Lenine e Trotsky, em 1921, foram a fórmula de que haveria de se revestir a usurpação do poder político por um único partido, ou melhor, por uma única facção. É verdade que pretendiam eles serem essas medidas transitórias e elas se perpetuaram.
           Trotsky, vítima de sua própria sombra, foi excluído do Partido e, depois, expulso da URSS. No exílio, ao invés de submeter a Revolução Russa à uma análise marxista e enxergar que a revolução socialista foi derrotada, ele descambou para o idealismo filosófico, assumindo a tese da revolução traída. Concomitantemente, seguiram-se outros equívocos, como Estado operário burocratizado, afirmação desprovida de qualquer fundamento, pois não houve, na URSS, a ditadura do proletariado e, sim, do partido único.
          Outro engano do sr. Trotsky foi proclamar a Revolução Russa como desfigurada, pois ela não se desfigurou apenas, ela tomou um caminho qualitativamente diferente,  através do stalinismo. O que aconteceu na URSS foi o capitalismo de Estado e isso ele não percebeu.
          Um fato que merece ser ressaltado é que ele, no exílio, voltou-se para a tarefa inverídica de provar que havia sido leninista desde sempre. Mais grave ainda, ele não se propôs a romper com as resoluções “temporárias” do X Congresso do PC russo. Pelo contrário, conservou-se fidelíssimo a essas resoluções, que impediam a existência de tendências no âmbito partidário e excluíam o livre debate.
         Como as demais facções stalinistas, o trotskismo implementou, com todo rigor, o conceito judaico do “povo eleito de Deus”. Isso implicava em que os grupos ou partidos trotskistas se auto proclamassem representantes da classe operária e, aqueles que se insurgissem contra seus ditames, deveriam ser excluídos e abatidos. Fiel a esse princípio bíblico de que “quem não está comigo, está contra mim”, Trotsky não vacilou em dispensar acusações do tipo oportunistas, carreiristas, centristas aos seus dissidentes, não poupando, sequer, figuras como Andrés Nin e Victor Serge.
         O monolitismo do X Congresso teve, no trotskismo, a aplicação mais profunda e a prova dessa afirmação é o fato de que existem, hoje, mais de cem organizações trotskistas espalhadas pelo mundo. Isso é a revelação inequívoca do quanto o monolitismo se faz presente nas hostes trotskistas, que não admitem qualquer discordância em relação ao discurso oficial de cada uma de suas agremiações. Os dissidentes não sobrevivem ou, para sobreviverem, têm que armar uma nova tenda.
            A condição indispensável para que possamos varrer para o lixo da História o stalinismo contrarrevolucionário, responsável pela manutenção do capitalismo, é restabelecer o livre debate, sem preconceito e, sobretudo, sem medo de romper com mitos, lendas, fantasias e fraudes disseminadas em nome do socialismo ou do comunismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário