Marxismo legal
A revolução socialista foi derrotada,
em escala mundial, na década de vinte do século passado. A contrarrevolução vitoriosa
assumiu o seu caráter mais cruel na URSS, auto-proclamada “pátria-mãe do
socialismo”, o que não passava de uma fraude, uma vez que ali se processou a
construção do capitalismo de Estado
e nunca as proposições de um projeto socialista. Os meios de produção e
distribuição das riquezas passaram a ser estatais e o Estado era da tutela
única e exclusiva do Partido. Socialismo, no seu sentido exato, é a
transformação da propriedade privada em propriedade social e, isso, não
existiu.
O alvo maior da contrarrevolução,
sob os auspícios do stalinismo, foi a doutrina socialista revolucionária. Para
perpetrar seu crime contrarrevolucionário, os soviéticos, usando o prestígio da
revolução socialista de 1917, promoveram o assassinato dos princípios. Primeiro,
a URSS proclamou-se, como já dissemos, “a pátria-mãe do socialismo”. Em um
segundo momento, apontou como inimigo todo aquele que se opusesse aos
interesses do capitalismo de Estado, sob a tutela da burocracia soviética. A
partir disso, os mais proeminentes quadros do bolchevismo, foram execrados como
inimigos da “revolução” e perseguidos, torturados, presos e muitos deles
executados. Depois disso, a contrarrevolução stalinista operou falsificações na
teoria, sobretudo quando substituiu a contradição central entre classe opressora
versus classe oprimida, pelo conceito de nações opressoras versus nações
oprimidas, elegendo essa última contradição como sendo central.
Através da Academia de Ciência da
URSS, a contrarrevolução stalinista construiu um conjunto de falsos conceitos e
dogmas, ao mesmo tempo que tolheu, violentamente, o livre debate, tão
necessário à vida política. Uma das mais perversas distorções praticadas pela
URSS foi o discurso dos dois mundos, que consistia em dizer que conviviam dois
sistemas socioeconômicos distintos: o capitalismo decadente e o socialismo
ascendente. Esse discurso alimentou a ação de uma vasta legião de militantes
por muitos anos e, quando da queda do Muro de Berlim, ficou evidente a sua burla.
Nesse processo, a “esquerda”, ficou reduzida
a um nível de indigência tal, que o espaço para as elaborações teóricas passou
a ser ocupado pelo “marxismo legal”, ou seja, um “marxismo” sabor burguês,
patrocinado regiamente pela “generosa” burguesia que, além de conferir
razoáveis remunerações aos seus acólitos, reservam-lhes uma boa parcela de
prestígio. Esses senhores, que não passam de ilustres charlatães de uma
presumida ciência política, são hoje operadores de um falso saber. São belos e
sinistros ilusionistas.
Caso se considere a Academia de
Ciência da URSS como a grande fonte de atraso e de perversão teórica do
socialismo, esse processo de rebaixamento veio a se acentuar, mais ainda,
através do “marxismo legal”, embora ele se revista de formas eruditas e ostente
títulos de mestres, doutores e pós doutores, fornecidos, fartamente, pela
burguesia.
Criou-se, pois, a rentável e segura
profissão de “marxista”. Dessa
maneira, torna-se imprescindível que os revolucionários tenham a coragem de
enfrentar essa trapaça, negando-se em deixar que a chantagem preconceituosa
possa lhes intimidar. É preciso distinguir a verdade da mentira, mesmo que essa
mentira se apresente sob o manto “sagrado do saber” conferido pelas academias
burguesas, como outrora se revestiu da indumentária de uma pretendida “academia
proletária”, sediada em Moscou.
Coragem. Eis a palavra de ordem que
se coloca diante de nós, na imprescindível tarefa de dizer que “o rei está nu”
e essa verdade, tão custosa, deve ser assumida em toda sua plenitude, mesmo
sabendo que ela fere o consenso imposto pelo próprio capitalismo, interessado
maior em turvar nossas mentes. Já se disse que a verdade é revolucionaria e é,
por essa razão, alvo do boicote, da intolerância e da perseguição.
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