Direita
versus Direita
Convencionamos chamar de direita aquelas forças políticas
que têm como objetivo a manutenção do capitalismo. Mas a direita não é uma
corrente política homogênea; ela se apresenta e age sob diversos matizes.
Porém, para tornar mais claro o conteúdo de nossas colocações, vamos considerar
que existem, fundamentalmente, duas correntes de direita. A primeira delas
poderia ser chamada de direita democrática e, a segunda, seria a direita
exacerbada, tipo “tolerância zero” que, em determinado momento, se apresentou
como sendo o nazifascismo.
A democracia política burguesa é o grande legado
histórico do processo de ascensão e consolidação do capitalismo, assumindo
medidas democráticas como o voto universal e secreto; o direito de ir e vir; o
livre direito de organização e de opinião; além das conquistas no campo dos
direitos individuais, tipo “todo mundo é inocente até prova em contrário”; “o
ônus da prova cabe a quem acusa”; “só se pode ser preso, em flagrante delito,
ou sob ordem judicial”; “ninguém deve ser mantido preso sem culpa formada”, e
assim por diante.
Esse caráter democrático, produzido pela revolução
burguesa, não adveio de uma consciência inspirada em bons sentimentos.
Tampouco, era uma manobra maquiavélica da burguesia ascendente. A democracia
política proposta pela burguesia foi advinda da necessidade que tinha a nova
ordem ascendente em promover sua obra de livre expansão econômica com a devida
eficácia e sem amarras.
Já foi dito que “a mais democrática república burguesa
esconde atrás de si a ditadura do capital sobre o trabalho”. Mesmo assim, os
mais proeminentes socialistas, como Karl Marx, Friedrich Engels, Moses Hess,
Karl Kautsky, Georgi Plekhanov, Rosa Luxemburgo, Vladimir Lenin, Julio Martov,
Leon Trotsky e outros próceres do pensamento revolucionário não deram as costas
a esse grande legado histórico, que foi a democracia política. Muito pelo
contrário, eles procuraram se apropriar e buscar aprofundar alguns avanços.
Porém, fizeram questão em deixar suficientemente claro que, bem mais do que a
democracia política, os trabalhadores deveriam marchar para a conquista da
democracia social ou, como se costuma chamar: social democracia.
Foi justamente na contramão dessa proposta política que
se colocou o totalitarismo, o fascismo. Ele revogou todos os direitos políticos
conquistados e impôs um só discurso, uma só imprensa, enquanto criou uma
polícia política pronta para perseguir, prender, torturar e até executar os
dissidentes.
Mas onde e por que surgiu o nefasto fenômeno do fascismo,
retrocedendo os avanços políticos conquistados pela humanidade? Ele surgiu, em
primeira mão, na URSS, nos anos 20 do século passado. Mas não foi produto de
mentes diabólicas, muito embora não hajam faltado facínoras, psicopatas,
traidores e outros tantos delinquentes, para que se pudesse viabilizar a
implantação do totalitarismo. A razão de sua existência devia-se ao fato de
que, na Rússia feudal, não se havia cumprido, basicamente, as tarefas da
revolução burguesa. Uma proposta socialista naquele país só poderia se efetivar
caso estivesse, intimamente, colada à vitória do socialismo na Europa
Ocidental. Entretanto, o que ocorreu, foi justamente o contrário, a revolução
socialista foi derrotada nos países mais avançados da Europa e isso retirou
toda e qualquer oportunidade do socialismo evoluir na URSS.
Não é correto imaginar que o insucesso político do
socialismo deu-se por obra e graça do papel traidor de um grupo de malfeitores.
Não tem fundamento colocações do tipo Estado operário burocratizado, revolução
traída, revolução desfigurada e tantos outros despropósitos. Houve, sim, um
embate político entre as forças socialistas e as forças conservadoras do
sistema. Nesse embate saiu-se vitoriosa a contrarrevolução e a grande tragédia
passou a consistir em não se ter reconhecido, em tempo historicamente hábil a
derrota e, dessa forma, se ter promovido uma retirada tática com menores danos.
A tragédia consistiu em se buscar cumprir as tarefas de construção do capitalismo,
como reforma agrária radical (coletivização forçada); construção de um amplo
parque industrial; viabilização das obras de infraestrutura, particularmente,
estradas, portos e vias de comunicação, e assim por diante.
Tratava-se, pois, de construir o capitalismo por vias
nada convencionais e isso teve um extremo custo social, na medida em que foi
implementada uma política de expropriação de grãos e uma jornada exaustiva do
trabalho operário, levada às culminâncias. Mas, se os custos sociais foram altos
e cruéis, muito maiores foram os custos políticos, na medida em que todos os
crimes praticados, na edificação do capitalismo de Estado, foram e ainda são
colocados em nome do socialismo e do comunismo, e esse fato se presta a afastar
legiões imensas de pessoas daquilo que seria a proposta socialista.
O projeto de uma nova ordem sempre objetivou a
socialização dos meios de produção, de modo a torná-los a serviço do bem estar
de todos. Em lugar disso, tivemos uma fraude, que consistiu em buscar a
construção do capitalismo de Estado como se fosse a construção do socialismo.
Rosa Luxemburgo afirmou que se pode
ter liberdade sem socialismo, mas não se pode ter socialismo sem liberdade. Nos
estados policiais, que desfraldaram e desfraldam, ilegitimamente, a bandeira do
socialismo, o que existe, do ponto de vista político, é um grande retrocesso, o
que existe é o totalitarismo, o fascismo, vestindo falsas fantasias, e essa
realidade nos coloca em uma situação deveras delicada. Não nos interessa a
direita democrática, mas muito menos haveria de nos interessar a direita
fascista, representada pelo stalinismo, pelo nazi-fascismo e, ultimamente, pelo
fundamentalismo islâmico, cujos exemplos mais gritantes são o do Irã, da Síria
e do Talibã. Consideremos, entretanto, que, na impossibilidade de apontarmos
para a saída socialista, diante da nossa escassez de força política frente ao
dilema direita democrática versus direita fascista, haveremos de nos colocar ao
lado da democracia política, e isso foi feito de forma clara e patente quando,
durante o embate entre Inglaterra, Estados Unidos e França democrática e o nazi
fascismo, optamos, naquele instante, em nos aliar com os primeiros. Outro
exemplo bastante ilustrativo é o que hoje se passa nos EUA, quando a direita se
organiza em torno de duas posições políticas: a extrema direita de Tea Party, de caráter fascista, e a
direita democrática que se aglutina em torno de Barack Obama.
Os
exemplos apontados servem para refletirmos que, em nenhuma hipótese, o
totalitarismo e o fascismo, podem ser objeto de nossa luta. Não há nenhuma
justificativa tática, e muito menos estratégica, para uma posição política
diferente nas circunstâncias apontadas. Fora o fascismo, deve ser a nossa
bandeira imediata e, viva o socialismo, o nosso objetivo maior e final.
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