O
Livro
Um senhor, versado em livros, particularmente os de
língua estrangeira, comete um erro primaríssimo, ao julgar que esse instrumento
é o depositário único do conhecimento.
O
livro é um meio, é uma mídia, e ele contempla as mais variadas opiniões, teses
e enunciados. Nessa imensa variação, ele se presta a ser veículo do saber, da
fantasia, da mentira, da mistificação, do engodo, do charlatanismo... Não
sendo, portanto, o instrumento consagrado para nos fornecer o mais correto
saber.
A
verdade, seja ela histórica ou de outra natureza está, antes de tudo, nos
fatos. Lembre esse senhor, possuído do mais profundo fetiche pelos livros, que,
antes de Galileu Galilei, todos os livros eruditamente produzidos, fossem em
sânscrito, aramaico, hebraico, latim, grego, dizia, unanimemente, que a terra
era fixa e o sol girava em torno dela. Isso, portanto, não devia ser discutido,
afinal estava lá nos livros essa afirmação. Porém, a verdade estava nos fatos e
esses fatos davam razão à tese de Galileu em dizer que a terra girava.
Também
nos sacramentados livros da Santa Madre Igreja estavam expostos, como verdades
indiscutíveis, uma lista de dogmas e contra esses dogmas se insurgiu Giordano
Bruno e, por essa razão, mereceu ser atirado à fogueira da Santa Inquisição.
Charles Darwin também se insurgiu contra todos os livros
escritos, fossem eles em inglês, francês, espanhol, português, alemão e tantas
outras línguas modernas, quando afirmou que, ao contrário do que diziam os
livrinhos, a existência do homem seria produto de um longo processo natural e
não criação de Deus. Parece que livros não eram o forte de Charles Darwin.
Não
evitando o pedantismo, a presunção, a arrogância e até a deselegância, o senhor
Álvaro Bianchi voltou-se contra o subscritor deste texto, alegando que ele
parecia não ser amante dos livros. Na verdade, parafraseando a Rosa Luxemburgo,
não somos idólatras nem dos livros e, muito menos, das “verdades sagradas”, que
não repouse nos fatos da vida real.
Numa exacerbada defesa de Leon Trotsky e do trotskismo, o
nosso amigo Álvaro Bianchi posiciona-se como um verdadeiro beato, desconhecendo
que a dúvida é o princípio do saber e que a convicção é mais grave do que a
própria mentira.
Ao
invés de cultuarmos “verdades sagradas”, deveríamos praticar o livre debate sem
rédeas e sem censura; ou seja, deveríamos restabelecer o debate democrático
despido de preconceitos e infundadas agressões. Cabe-nos, neste momento,
formular uma pergunta que merece ser respondida: A imprensa democrática
burguesa está aí, e onde estará a imprensa democrática proletária? Seria nas
publicações dos grupos, movimentos e partidos trotskistas?
Ao invés do ensandecido furor dos beatos, é de bom
alvitre que haja a reflexão e a discussão democrática e respeitosa.
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