quarta-feira, 19 de março de 2014

O Livro



O Livro
                                                                                             
            Um senhor, versado em livros, particularmente os de língua estrangeira, comete um erro primaríssimo, ao julgar que esse instrumento é o depositário único do conhecimento.

O livro é um meio, é uma mídia, e ele contempla as mais variadas opiniões, teses e enunciados. Nessa imensa variação, ele se presta a ser veículo do saber, da fantasia, da mentira, da mistificação, do engodo, do charlatanismo... Não sendo, portanto, o instrumento consagrado para nos fornecer o mais correto saber.

A verdade, seja ela histórica ou de outra natureza está, antes de tudo, nos fatos. Lembre esse senhor, possuído do mais profundo fetiche pelos livros, que, antes de Galileu Galilei, todos os livros eruditamente produzidos, fossem em sânscrito, aramaico, hebraico, latim, grego, dizia, unanimemente, que a terra era fixa e o sol girava em torno dela. Isso, portanto, não devia ser discutido, afinal estava lá nos livros essa afirmação. Porém, a verdade estava nos fatos e esses fatos davam razão à tese de Galileu em dizer que a terra girava.

Também nos sacramentados livros da Santa Madre Igreja estavam expostos, como verdades indiscutíveis, uma lista de dogmas e contra esses dogmas se insurgiu Giordano Bruno e, por essa razão, mereceu ser atirado à fogueira da Santa Inquisição.
            
        Charles Darwin também se insurgiu contra todos os livros escritos, fossem eles em inglês, francês, espanhol, português, alemão e tantas outras línguas modernas, quando afirmou que, ao contrário do que diziam os livrinhos, a existência do homem seria produto de um longo processo natural e não criação de Deus. Parece que livros não eram o forte de Charles Darwin.

Não evitando o pedantismo, a presunção, a arrogância e até a deselegância, o senhor Álvaro Bianchi voltou-se contra o subscritor deste texto, alegando que ele parecia não ser amante dos livros. Na verdade, parafraseando a Rosa Luxemburgo, não somos idólatras nem dos livros e, muito menos, das “verdades sagradas”, que não repouse nos fatos da vida real.
           
        Numa exacerbada defesa de Leon Trotsky e do trotskismo, o nosso amigo Álvaro Bianchi posiciona-se como um verdadeiro beato, desconhecendo que a dúvida é o princípio do saber e que a convicção é mais grave do que a própria mentira.

Ao invés de cultuarmos “verdades sagradas”, deveríamos praticar o livre debate sem rédeas e sem censura; ou seja, deveríamos restabelecer o debate democrático despido de preconceitos e infundadas agressões. Cabe-nos, neste momento, formular uma pergunta que merece ser respondida: A imprensa democrática burguesa está aí, e onde estará a imprensa democrática proletária? Seria nas publicações dos grupos, movimentos e partidos trotskistas?
            
   Ao invés do ensandecido furor dos beatos, é de bom alvitre que haja a reflexão e a discussão democrática e respeitosa.

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