quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ao Michael Bocádio



Ao Michael Bocádio

Camarada Michael,
                                                   
Fiquei sensibilizado com a sua declaração de que precisamos preservar um espaço aberto e, sobretudo democrático, onde as diferenças possam vir à luz sem que haja a excludência e as ofensas desrespeitosas.
Nos meus 55 anos de militância socialista não tive a oportunidade de encontrar a chamada “democracia proletária”. Regra geral, revistas, jornais e outras mídias dos mais diversos grupos “marxistas-leninistas” e “marxistas-leninistas-trotskistas” têm uma postura de exclusão. Nada publicam que contrarie o discurso oficial e único do agrupamento.
Recentemente, fui vítima de um ato de exclusão por parte do jornal eletrônico “Correio da Cidadania”. Após ter publicado um artigo sob o título: “Aos trotskistas”, a direção do referido jornal foi pressionada para que eu não dispusesse mais daquele espaço tão importante. Essa atitude de excludência, essa atitude antidemocrática é de natureza stalinista, ou seja, é uma atitude que conserva fidelidade às resoluções do X Congresso do PC Russo, de 1921, aprovadas sob o patrocínio de Vladimir Lenin e Leon Trotsky, e que tinha a pretensão de ser temporária.
O monolitismo apoiado no discurso único, no partido único, na imprensa única, tomou formas bastante agudas com a plena consolidação do stalinismo em suas diversas roupagens, inclusive o stalinismo trotskista. E, quando vejo você, camarada Michael, clamar pelo livre debate, isso me traz alegria e espero que essa postura ganhe espaço e a democracia proletária passe a existir de fato.
Temos uma lista quase infinda de questões a serem respondidas, com a máxima urgência e seriedade, e isso só pode ser feito através do livre debate, respeitoso e sem preconceitos.
Diante de nós, socialistas revolucionários, existe o dever de responder aos seguintes questionamentos: Como se explica a sobrevivência do sistema capitalista, completamente exaurido e despido de qualquer proposta de esperança? Será justo imputar essa indevida sobrevivência à competência política do inimigo sem nos reportarmos à incompetência dos que sempre ostentaram o título de “marxistas-leninistas” ou “marxistas-leninistas-trotskistas”? Não é de bom alvitre parar de atribuir ao inimigo às razões dos nossos inúmeros insucessos? Não é oportuno deixar claro que o papel do inimigo é ser inimigo e que eles não mandam flores?
Além dessas, meu caro Bocádio, se seguem outras tantas interrogações que merecem a atenção de nossa parte e a coragem de cortar, na própria carne, para que a verdade histórica possa ser desvelada e as lendas, mentiras e fraudes sejam expurgadas do nosso pensar e do nosso fazer.


Fortaleza, 24 de abril de 2014.


Gilvan Rocha
Presidente do CAEP -
                          Centro de Atividades e Estudos Políticos

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