quarta-feira, 2 de abril de 2014

Pelé e a Copa



             
           


Pelé e a Copa

                O sr. Edson Arantes do Nascimento, Pelé, revelou-se, muito cedo, um grande gênio na arte de jogar futebol. Até aí, ele nos merece todos os louvores que a glória e o sucesso podem conferir aos gênios. Outra coisa, bastante diferente, é retratar o sr. Edson Arantes, enquanto pessoa, ou para usar o jargão da moda, retratar o sr. Edson Arantes, enquanto cidadão.
            Além de episódios menores, como o de negar paternidade a uma filha, que foi, por tudo que parece, produto acidental de um momento de aconchego, o sr. Pelé foi um grande omisso diante de outras questões sumamente cruciais. Por exemplo, diante do horrendo quadro de exceção, ou seja, diante da ditadura contrarrevolucionária no Brasil, ele não só soube guardar silêncio, como procurou tirar proveito dos mimos de que era alvo por parte desses governos arbitrários e truculentos.
            Não bastassem os fatos mencionados, o citado cidadão cometeu o maior dos seus crimes, quando evitou usar o seu grande prestígio mundial, para denunciar a cruel segregação racial que se dava através do Apartheid, na África do Sul, sob a tutela de um regime político que mantinha, no cárcere, a figura heroica de Mandela.
            Agora, desconhecendo as justas queixas acumuladas pelo povo brasileiro, que soube ir às ruas protestar, ano passado, ele se reservou o direito de pronunciar um apelo, no sentido de que sejam evitados os atos de protestos que possam comprometer ou ofuscar o “brilho” desse espetáculo bilionário, como pretende ser a Copa do Mundo de 2014, sob a batuta da riquíssima e corrupta FIFA.
            Francamente, o sr. Edson Arantes, o gênio do futebol, tem se revelado um verdadeiro réptil, um ser rastejante diante da opulência de um sistema que se nutre das inúmeras misérias sociais.
            Assim sendo, seria o povo que teria o direito de se dirigir a Pelé, pedindo que ele mantivesse, pelo menos, o silêncio, e não se prestasse a compactuar com o jogo sujo que se faz exibindo um riquíssimo espetáculo, cujo efeito é, além do entretenimento, o criminoso propósito de lançar areia nos olhos de nossa gente.

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