segunda-feira, 14 de abril de 2014

Resgatar convictos

Resgatar convictos

            Atribui-se a Nietzsche a afirmação de que a convicção é mais grave do que a mentira. Por sua vez tem-se, como sendo da autoria de Karl Marx, a afirmação de que a dúvida é o princípio do saber.
Sem nenhum propósito de gracejo, costumo me reportar à minha querida avó, que faleceu aos 102 anos de idade, e viveu na convicção de que era possível curar câncer com água benta. Dessa maneira, torna-se quase sobre-humano o trabalho de demover os convictos de “suas verdades”.
A postura dos acríticos, dos devotos de certos credos, cria profundas dificuldades, quando não inviabiliza o livre debate, pois os diversos beatos estão predispostos a manterem-se fiéis às suas crenças, sem colocá-las em dúvida.
Beatos, vamos encontrá-los em todos os universos de pensamentos. Desse destino não escapam as legiões de pessoas que se reivindicam marxistas-leninistas ou marxistas-leninistas-trotskistas. Para esses devotos todas as versões, emanadas dos “apóstolos” da Revolução Russa, são expressão indiscutível da verdade. E isso é um absurdo.
Não seria tarefa da burguesia tratar a Revolução Russa sob a luz da verdade. Por sua vez, a vitória da contrarrevolução, em escala mundial, produziu o stalinismo que não tinha nenhum interesse em aclarar os fatos. De um lado, o stalinismo ortodoxo, a partir da famigerada Academia de Ciências da URSS, tratou de perverter todos os princípios do socialismo revolucionário. Por outro lado, a dissidência trotskista do stalinismo, difundiu uma versão idealista da Revolução Russa, atribuindo seus descaminhos ao papel traidor de Josef Stalin e seus asseclas, desconhecendo que não é a vontade, não é o querer, que determinam o curso da história.
Criou-se, então, um círculo de aço e ferro, construído pela contrarrevolução, seja na sua forma explícita ou na forma de uma falsa esquerda, autoproclamada marxista-leninista ou marxista-leninista-trotskista, e o resultado disso está aí, quando temos um capitalismo exaurido, porém gozando de ampla hegemonia política.

Figuras exponenciais do processo revolucionário socialista ficaram protegidas da crítica diante dos seus graves erros, por conta, muitas vezes, de sua militância aguerrida e, sobretudo, por conta de seus martírios. Caberia a nós formularmos uma pergunta: A imolação de muitos crédulos, como ocorreu, à guisa de exemplo, por ocasião da guerra do Vietnã, por parte de monges budistas, ou o martírio obstinado dos cristãos lançados às feras, tornam o seu pensar legítimo ou devemos louvar o desprendimento, a coragem, porém, conservar o rigor crítico quanto aos seus pensares?

Um comentário:

  1. Prezado Gilvan Rocha, acompanho seus artigos ha algum tempo. Eles me causam uma estranha sensação: concordo no atacado e discordo no varejo.Tal fato se repete aqui. Concordo com a crítica, mas discordo da conclusão.A narração da fé de sua avó na água-benta para curar o câncer me lembrou este artigo que divido com você: DO SOCIALISMO AO COMUNISMO: UMA QUESTÃO DE FÉ.

    http://questoesrelevantes.wordpress.com/2014/01/24/do-socialismo-ao-comunismo-uma-questao-de-fe-2/

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