Resgatar
convictos
Atribui-se a Nietzsche a afirmação de que a convicção é mais grave do que a mentira.
Por sua vez tem-se, como sendo da autoria de Karl Marx, a afirmação de que a dúvida é o princípio do saber.
Sem
nenhum propósito de gracejo, costumo me reportar à minha querida avó, que
faleceu aos 102 anos de idade, e viveu na
convicção de que era possível
curar câncer com água benta. Dessa maneira, torna-se quase sobre-humano o
trabalho de demover os convictos de “suas
verdades”.
A
postura dos acríticos, dos devotos de certos credos, cria profundas
dificuldades, quando não inviabiliza o livre debate, pois os diversos beatos
estão predispostos a manterem-se fiéis às suas crenças, sem colocá-las em
dúvida.
Beatos,
vamos encontrá-los em todos os universos de pensamentos. Desse destino não
escapam as legiões de pessoas que se reivindicam marxistas-leninistas ou
marxistas-leninistas-trotskistas. Para esses devotos todas as versões, emanadas
dos “apóstolos” da Revolução Russa, são expressão indiscutível da verdade. E isso é um absurdo.
Não
seria tarefa da burguesia tratar a Revolução Russa sob a luz da verdade. Por
sua vez, a vitória da contrarrevolução, em escala mundial, produziu o
stalinismo que não tinha nenhum interesse em aclarar os fatos. De um lado, o
stalinismo ortodoxo, a partir da famigerada Academia de Ciências da URSS,
tratou de perverter todos os princípios do socialismo revolucionário. Por outro
lado, a dissidência trotskista do stalinismo, difundiu uma versão idealista da
Revolução Russa, atribuindo seus descaminhos ao papel traidor de Josef Stalin e
seus asseclas, desconhecendo que não é a vontade, não é o querer, que determinam
o curso da história.
Criou-se,
então, um círculo de aço e ferro, construído pela contrarrevolução, seja na sua
forma explícita ou na forma de uma falsa esquerda, autoproclamada marxista-leninista
ou marxista-leninista-trotskista, e o resultado disso está aí, quando temos um
capitalismo exaurido, porém gozando de ampla hegemonia política.
Figuras
exponenciais do processo revolucionário socialista ficaram protegidas da
crítica diante dos seus graves erros, por conta, muitas vezes, de sua
militância aguerrida e, sobretudo, por conta de seus martírios. Caberia a nós
formularmos uma pergunta: A imolação de muitos crédulos, como ocorreu, à guisa
de exemplo, por ocasião da guerra do Vietnã, por parte de monges budistas, ou o
martírio obstinado dos cristãos lançados às feras, tornam o seu pensar legítimo
ou devemos louvar o desprendimento, a coragem, porém, conservar o rigor crítico
quanto aos seus pensares?
Prezado Gilvan Rocha, acompanho seus artigos ha algum tempo. Eles me causam uma estranha sensação: concordo no atacado e discordo no varejo.Tal fato se repete aqui. Concordo com a crítica, mas discordo da conclusão.A narração da fé de sua avó na água-benta para curar o câncer me lembrou este artigo que divido com você: DO SOCIALISMO AO COMUNISMO: UMA QUESTÃO DE FÉ.
ResponderExcluirhttp://questoesrelevantes.wordpress.com/2014/01/24/do-socialismo-ao-comunismo-uma-questao-de-fe-2/