Um
diabo camarada
Insistimos
em lembrar aos desavisados de que há uma diferença essencial entre poder e
governo. O poder é permanente e representa, no capitalismo, os interesses
gerais da burguesia. Já o governo é transitório e representa uma determinada
política econômica. A história tem mostrado que, quando os governos conflitam
com o poder ou colocam em risco os interesses gerais da burguesia, são
depostos. Poderíamos recorrer a centenas de exemplos históricos desse fato,
porém, nos ateremos a comentar os exemplos do Chile e do Brasil.
No
Chile, em 1970, foi eleito para a Presidência daquele país, o socialista
Salvador Allende. Logo que assumiu a presidência ele passou a tomar medidas
que, além de contrariarem o sistema, colocavam em risco a sua estabilidade. E o
que ocorreu? Através de seu braço armado
a burguesia desfechou um golpe de Estado, em 1973, depondo o governo popular.
Aqui,
no Brasil, em 1964, foi dado um golpe de Estado de caráter bonapartista, com o
claro propósito de afastar o “perigo” de revolução social uma vez que as massas
populares radicalizavam e a direção reformista estava perdendo o seu controle.
Feitas
essas observações quanto a diferença entre governo e poder, queremos relembrar
o que temos dito, com certa insistência, de que o inferno não deixa de ser
infernal mudando-se apenas o diabo de plantão. Pode ser que um diabo ou outro
desligue uma caldeira ou duas, mas o inferno continuará infernal, por definição.
Acontece
que a velha esquerda nacional-reformista resolveu, há algum tempo, vestir a
fantasia do diabo camarada, como expressa o bordão “o modo petista de
governar”. Tratar-se-ia de um modo criativo de gerenciar o inferno, quer dizer,
gerenciar o capitalismo de maneira a torná-lo humanizado. Para sermos generosos
diríamos que isso é um grande equívoco decorrente da indigência política da
velha esquerda sem discurso. A verdade é que não existe nenhum diabo camarada
que possa mudar a face cruel de um sistema exaurido.
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