Brasil,
1968
Pouco se discute 1964, e o pouco peca
por equívocos. O mais grave é a caracterização do golpe. Diz-se um golpe
militar. Os militares não são uma classe social, são o braço armado da
burguesia. O que houve foi um golpe contrarrevolucionário.
Ultimamente, os “gênios” acadêmicos passaram
a chamar esse evento de golpe civil-militar. Cretinice pura, pois passa ao
largo do caráter de classe do poder. Outra aberração é a denúncia de que o “golpe
nasceu em Washington”. Por definição, Washington é inimigo da revolução, e “os
inimigos não mandam flores”. A história registra que os yankes foram derrotados
pelos vietcongs, em um testemunho de que não são as armas e, sim, a natureza da
guerra que pode determinar o seu resultado. A alusão a Washington tinha,
despudoradamente, a pretensão de dizer que, caso houvesse um conflito armado no
Brasil, a revolução seria, necessariamente, esmagada e, isso, não procede.
Consumado o golpe, instalou-se um
governo de exceção (ditadura). Mas, após a derrota, o movimento de massa se
rearticulou, promovendo passeatas, greves, enfrentamento no campo, e isso
ameaçava a estabilidade política. Deu-se, então, um golpe dentro do golpe, em
1968.
A pobreza teórica das esquerdas
levou à redução de toda discussão a um falso dilema: luta armada ou o caminho
pacífico para o socialismo. Os primeiros se julgavam revolucionários e diziam:
basta de blábláblá, a revolução se dá com armas e dinheiro. Armas, vamos buscar
nos quartéis e, dinheiro, nos bancos. Partindo dessa premissa, a maioria se
propôs a organizar grupos armados prontos para ações. Essa simplificação decorria,
como dissemos, do nosso raquitismo teórico e, para ilustrar, lembremos do fato
de que uma das referências dos “revolucionários” era Cuba e, lá, predominava a
máxima: “hay que tener cojones”, o que não passa da degradação política produzida
pelos longos anos de hegemonia stalinista.
Esses fatos explicam o silêncio que
se impôs em torno de 1964, enquanto 1968 se constituiu no foco das abordagens, destacando-se
as produções cinematográficas, que se detiveram e se detêm na denúncia de que a
ditadura impôs o seu terror, perseguindo, prendendo, torturando e executando
uma legião imensa de bravos militantes. Assim, ao invés da necessária reflexão,
resvala-se para o culto do martírio e esse enfoque não nos permite avançar no
caminho da lucidez política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário