quarta-feira, 25 de junho de 2014

Tentemos responder



Tentemos responder

Sim, ao invés de nos entregarmos ao furor da paixão, é muito mais sensato e consequente nos empenhar em responder, de forma serena e construtiva, alguns questionamentos gritantes que a História nos propõe, nos dias de hoje:
1). Não tinha absoluta razão Leon Trotsky, em 1904, quando profetizou, através de sua obra “Nossa tarefa política”, que o modelo de partido proposto por Vladimir Lenin nos levaria ao substituísmo?
2). Não tinha ainda razão Leon Trotsky quando denunciou o caráter blanquista do modelo leninista de partido, exposto na obra “O que fazer?”, de 1902/03?
3). Vladimir Lenine não concordou com Rosa Luxemburgo, na crítica à sua proposta de modelo partidário, ponderando que ele se aplicava unicamente à realidade russa, não tendo, portanto, nenhum valor universal?
4). Como, então, Lenine e Trotsky procuraram universalizar o modelo bolchevique de partido, modelo esse que ainda hoje perdura nas organizações de matrizes stalinistas e stalinistas-trotskistas?
5). Trotsky de 1917 não renegou o Trotsky marxista e profético de 1904, quando se passou, de armas e bagagens, para o bolchevismo?
6). Não foi uma atitude despida do menor vestígio de verdade Leon Trotsky se dizer leninista desde sempre?
7). Quando Lenine afirmou, em 1919, que a Revolução Russa vivia um dilema: “Ou avança a revolução socialista na Europa ocidental ou pereceremos”. Tinha ele razão ou não?
8). A revolução mundial não avançou. Não se confirmou a profecia de Lenine? Colocando melhor: não pereceu a Revolução Russa face à derrota da revolução mundial?
9). Em 1920, não houve várias greves operárias em protesto aos caminhos que vinham tomando o processo revolucionário russo, liderado pelos bolcheviques?
10). Que tratamento mereceu dos bolcheviques esses movimentos grevistas, senão a repressão e a calúnia?
11). Quando, em 1921, por ocasião do X Congresso do PC russo e, diante de uma situação extremamente crítica, foram tomadas medidas no sentido de suprimir, em caráter emergencial, toda e qualquer liberdade política, não houve advertência de figuras como Alexandra Kollontai, Julio Martov, Plekanov, Pavel Axerold, que aquelas medidas eram suicidas?
12). As medidas de exceção, que suprimiam as liberdades políticas, impondo o monolitismo, o partido único, a imprensa única e instituindo a polícia política, os campos de concentrações e execuções sumárias dos dissidentes, não foram denunciadas como ações que sepultariam a revolução?
13). Não dá para enxergar que o Estado soviético era um poder político em mão de um único partido e de que nunca houve um Estado operário, ou melhor, nunca houve uma ditadura do proletariado e, sim a ditadura de um partido único?
14). Não se conclui ter inexistido qualquer forma de estado operário, quando essa classe não tinha nenhuma ingerência nas políticas estatais?
15). Quando da insurreição do soviete de Kronstadt, fruto da insatisfação do operariado, não se procedeu uma dura repressão comandada por Trotsky sob alegação caluniosa de que aquele soviete tornara-se contrarrevolucionário?
16). Posteriormente, Trotsky não foi expulso do partido e depois da URSS, sob acusação de ser agente do inimigo, tal qual acontecera com Kronstadt?
17). Em seguida a Trotsky, não foram caluniados e executados Zinoviev e Kamenev, sob o mesmo argumento?
18). Na sequência desses fatos também não foi caluniado e executado Bukarin, autor da tese da “construção do socialismo em um só país”?
19). Por que Vladimir Lenine, vivo, não rompeu com as resoluções do X Congresso?
20). Por que não reconheceram, Lenine e Trotsky, a derrota naquele momento da revolução socialista e não promoveram um recuo tático, de forma a evitar prejuízos tão profundos?
21). Era justo uma “vitória” a qualquer preço, fundada em um tresloucado voluntarismo que atropelava as mais comezinhas leis da história?
22). Qual o custo social e político dessa falsa vitória a ser, hoje, contabilizado?
23). Não dá para concluir que o stalinismo não foi só um produto da contrarrevolução, como se tornou a sua mais eficaz força operadora?
24). Seria possível, ao capitalismo exaurido, gozar de tanta hegemonia política, hoje, sem a convergência das duas grandes forças da contrarrevolução, quais sejam: a direita explícita e a direita travestida de esquerda, usando os carimbos de “marxismo-leninismo” ou “marxismo-leninismo-trotskismo”?
Observamos que questionamentos não faltam. Diante deles, em nada contribui a fúria dos beatos. Não deveremos considerar inimigos os que questionam, mas sim, os que se ausentam dos questionamentos, inviabilizando o livre debate, como sempre fizeram os diversos agrupamentos stalinistas, sejam eles os ortodoxos, os maoístas, os kruchevistas, os fidelistas ou os trotskistas dos mais diversos matizes.

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