segunda-feira, 21 de julho de 2014

Deu um nó



Deu um nó

            Coloquemos os fatos de forma bastante clara, mesmo tendo que repetir alguns argumentos. Na década de vinte, do século passado, no confronto mundial entre a proposta do socialismo e a proposta contrarrevolucionária do imperialismo, venceu, de forma plena e profunda, a contrarrevolução, incluindo-se, aí, a própria URSS. Algumas tragédias seguiram-se em decorrência desse fato. A primeira grande tragédia foi cometida por parte dos mais representativos líderes revolucionários russos não terem reconhecido, em tempo hábil, a derrota. Caso tivesse ocorrido esse reconhecimento, haveria a possibilidade de um recuo tático para recomposição das forças. A segunda grande tragédia foi travestir a contrarrevolução russa em esquerda “marxista-leninista”. Desse processo de derrota surgiu um fenômeno histórico chamado stalinismo que, usando o carimbo “marxista-leninista”, passou a ser, de fato, uma direita travestida de esquerda. A terceira grande tragédia deveu-se ao fato de que uma dissidência nascida no âmago da Terceira Internacional stalinista, uma dissidência que não rompeu com os fundamentos da perversão contrarrevolucionária, conservando-se fiel às resoluções do X Congresso do PC Russo, de 1921, e que teriam um caráter presumidamente transitório, porém foram “eternizadas”. Essa dissidência conservou-se no âmbito do stalinismo.

            Criaram-se, pois, duas grandes correntes da contrarrevolução vitoriosa. A primeira, representada pela direita explícita, pelo imperialismo, guardião dos interesses gerais do capitalismo. A segunda corrente contrarrevolucionária apresentou-se travestida de esquerda, usando o rótulo do “marxismo-leninismo” ou do “marxismo-leninismo-trotskismo”. A confluência dessas duas grandes forças contrarrevolucionárias formou um círculo de ferro e aço quase impossível de romper. Esse círculo tornou-se responsável pelo nível de indigência teórica a que chegou essa presumida esquerda, tropeçando ou renegando os princípios mais comezinhos do socialismo revolucionário. Em função desse fato, deu-se um nó na cabeça da militância, em geral, inclusive daqueles que, se julgando teóricos, não ultrapassam os limites dos preceitos contrarrevolucionários, cuja expressão maior é o antiamericanismo.

            A Academia de Ciências da URSS foi um dos grandes berços da idiotização política. Primeiro, ela revogou a luta de classes como contradição principal para eleger a contradição nação opressora versus nação oprimida. Depois, cerceou qualquer livre debate e impôs, ferreamente, o monolitismo e, todo aquele que se atrevesse a questioná-lo, estaria sujeito à acusação de inimigo do povo. A dissidência “stalinista-trotskista” não se propôs romper esse círculo de ferro e aço. Partindo de conceitos equivocados, do tipo revolução traída, revolução desfigurada, revolução política regeneradora, estado operário burocratizado e outras impropriedades, construiu-se uma falsa saída e a convergência desses fatos levou a que se promovesse um verdadeiro bloqueio do pensar socialista. Esse bloqueio leva a situações das mais estapafúrdias, a começar pela aceitação da fraude de que existiriam dois mundos, dois sistemas socioeconômicos distintos convivendo pacificamente. Depois, permitiu que brotasse uma gama de “marxistas legais”, que correm às léguas da discussão em torno de questões como a proposta kruchevista da conquista do socialismo por vias pacíficas. Esses “marxistas legais” preferem o ambiente gelatinoso da subjetividade do tipo, “para além do capital”, e nenhuma palavra tem a dizer sobre os golpes da Indonésia, do Chile e do Brasil, para citar apenas alguns casos.

            Observando com a devida acuidade o nosso quadro, enxergamos um estado de indigência tal que nos leva a crer no fato da contrarrevolução, representada pela direita explícita e pelo stalinismo fantasiado de esquerda, ter promovido um verdadeiro nó no pensar, o que nos deixa numa situação da mais profunda pobreza teórica em relação à conjuntura que hoje se apresenta, cujo fato está explícito na ampla hegemonia política do imperialismo e na ausência de qualquer movimento de caráter anticapitalista, dotado de significativo peso.

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