sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A “boa” torturadora




            Nos anos da ditadura, uma companheira foi submetida à tortura. Alquebrada, face os sofrimentos, seus torturadores, cruelmente impõem que a torturada aplique choques elétricos em outros presos. Sem forças para reagir, ela aceitou assumir o papel de torturadora dos seus companheiros. 

            Ela sobreviveu e obteve, posteriormente, sua soltura. Aproveitou para fugir, se exilar. Curada das dores físicas, vieram as cobranças morais. Como é que a companheira concordou em torturar? E ela, ao invés de assumir a sua fraqueza, passou a se justificar dizendo que concordou no propósito de castigar as vítimas de forma menos dolorosa e, assim, ela estava servindo para amenizar as dores dos torturados. 

O fato relatado corresponde à verdade e ele se coloca dentre um elenco de posturas assumidas diante do terror insano. Esse episódio tem um componente muito mais grave. 

Sabemos que o capitalismo promove a exploração do homem, enquanto depreda a natureza. Sabemos que os seus crimes giram em torno de um único propósito, o de proporcionar lucros para uma minoria. Sabemos, ou deveríamos saber, que esse sistema socioeconômico, há muito, perdeu o seu caráter progressista. Sabemos, pois, que ele se tornou extremamente mau. Deveríamos saber, também, que a tarefa de gerenciar o capitalismo é da burguesia e de seus prepostos. Mas, muitos são os que caem na armadilha de acreditar no discurso burguês de que o capitalismo é bom, desde que gerenciado com competência e honestidade.

Esse argumento corresponde à lógica da companheira, que se supunha uma “torturadora” menos perversa. Ela tem, a seu favor, o fato de ter agido sob coação, enquanto a “esquerda”, que se propõe tornar o capitalismo palatável, o faz por ingenuidade ou má-fé.

Governar o capitalismo é tarefa deles; aos socialistas revolucionários cabe o papel primordial de desconstruir esse sistema socioeconômico, e o exercício de governá-lo é totalmente contrário aos interesses reais da humanidade. É tentar assumir o papel do “bom” torturador, e isso é um ultraje.

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