segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Che e a russificação


Quando falamos de um ativista político, teremos duas apreciações distintas. Uma é o individuo com suas qualidades positivas ou negativas. Outra, é o ente político com seus acertos, erros, limitações, talentos, genialidades. Partindo daí, é que nos propomos tratar de Che Guevara. Vendo do lado pessoal, temos testemunhos de sua grandeza, destacando-se o fato de ele rejeitar a russificação de Cuba, preferindo se imolar nos grotões bolivianos, depois de ter passado pelo Congo. Lamentável, é que ele não atinava a dimensão de sua grandeza, nem conhecimento da História. Fosse ele possuído de formação política na perspectiva do socialismo, ao invés de se embrenhar no Congo ou na Bolívia, teria, isso sim, deixado Cuba para se instalar em Paris, Londres ou Roma, centros do capitalismo desenvolvido, tanto do ponto de vista econômico, quanto político.
Tivesse Guevara elaborado um manifesto ao mundo, discorrendo sobre o verdadeiro papel da URSS e fazendo um apelo às classes trabalhadoras de todos os países, para formarem uma frente anticapitalista, haveria de fazer estremecer as estruturas políticas do sistema socioeconômico vigente. Seu precário nível de formação política, fazia com que ele não extrapolasse as fronteiras da guerrilha dentro da logica maoísta do “campo cercando a cidade”. O seu apelo para que se criassem um, dois, três Vietnãs, expressava seus equívocos.
Em nome da decência, Che negou-se em aceitar a russificação e preferiu o caminho do martírio. Essa conduta lhe confere justas reverências. Mas do ponto de vista da História, sua atitude ficou aquém e, de tudo, restaram as estampas de sua imagem angelical, impressa nas camisetas da juventude.

Che, não legou um ensaio, um artigo, um livro, dotado da mínima substância que servisse como peça de esclarecimento capaz de orientar no rumo de uma militância realmente revolucionária. Em apoio aos nossos argumentos, basta lembrarmos do fato de que a brava guerra de libertação nacional levada avante pelos vietnamitas, hoje não passa de página virada, pois como já dissera Marx e Engels, o eixo da história é a luta de classes e nunca uma presumida luta entre nações opressoras e oprimidas. Essa deplorável lógica, circunscreveram muitos militantes de boa fé nos marcos da periferia do capitalismo, dando às costas as massas trabalhadoras da Europa ocidental, dos Estados Unidos, do Japão, cidadelas de sustentação do aludido sistema. Che Guevara poderia ter contribuído para quebrar essa percepção, fruto do atraso imposto pelos longos anos de hegemonia stalinista.

Um comentário:

  1. Talvez, meu caro, se ele tivesse optado por uma atuação mais histórica e de consagração como interlocutor das classes, ele teria deixado a sua essência de lado. A essência de um inconformado. E um mito não consegue fazer isso!

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