Tentemos
responder
Sim, ao invés de nos
entregarmos ao furor da paixão, é muito mais sensato e consequente nos empenhar
em responder, de forma serena e construtiva, alguns questionamentos gritantes que
a História nos propõe, nos dias de hoje:
1). Não tinha absoluta razão Leon Trotsky,
em 1904, quando profetizou, através de sua obra “Nossa tarefa política”, que o
modelo de partido proposto por Vladimir Lenin nos levaria ao substituísmo?
2). Não tinha ainda razão Leon Trotsky
quando denunciou o caráter blanquista do modelo leninista de partido, exposto
na obra “O que fazer?”, de 1902/03?
3). Vladimir Lenine não concordou com
Rosa Luxemburgo, na crítica à sua proposta de modelo partidário, ponderando que
ele se aplicava unicamente à realidade russa, não tendo, portanto, nenhum valor
universal?
4). Como, então, Lenine e Trotsky
procuraram universalizar o modelo bolchevique de partido, modelo esse que ainda
hoje perdura nas organizações de matrizes stalinistas e stalinistas-trotskistas?
5). Trotsky de 1917 não renegou o
Trotsky marxista e profético de 1904, quando se passou, de armas e bagagens,
para o bolchevismo?
6). Não foi uma atitude despida do menor
vestígio de verdade Leon Trotsky se dizer leninista desde sempre?
7). Quando Lenine afirmou, em 1919, que
a Revolução Russa vivia um dilema: “Ou avança a revolução socialista na Europa
ocidental ou pereceremos”. Tinha ele razão ou não?
8). A revolução mundial não avançou. Não
se confirmou a profecia de Lenine? Colocando melhor: não pereceu a Revolução
Russa face à derrota da revolução mundial?
9). Em 1920, não houve várias greves
operárias em protesto aos caminhos que vinham tomando o processo revolucionário
russo, liderado pelos bolcheviques?
10). Que tratamento mereceu dos
bolcheviques esses movimentos grevistas, senão a repressão e a calúnia?
11). Quando, em 1921, por ocasião do X
Congresso do PC russo e, diante de uma situação extremamente crítica, foram
tomadas medidas no sentido de suprimir, em caráter emergencial, toda e qualquer
liberdade política, não houve advertência de figuras como Alexandra Kollontai,
Julio Martov, Plekanov, Pavel Axerold, que aquelas medidas eram suicidas?
12). As medidas de exceção, que
suprimiam as liberdades políticas, impondo o monolitismo, o partido único, a
imprensa única e instituindo a polícia política, os campos de concentrações e
execuções sumárias dos dissidentes, não foram denunciadas como ações que
sepultariam a revolução?
13). Não dá para enxergar que o Estado
soviético era um poder político em mão de um único partido e de que nunca houve
um Estado operário, ou melhor, nunca houve uma ditadura do proletariado e, sim
a ditadura de um partido único?
14). Não se conclui ter inexistido
qualquer forma de estado operário, quando essa classe não tinha nenhuma
ingerência nas políticas estatais?
15). Quando da insurreição do soviete de
Kronstadt, fruto da insatisfação do operariado, não se procedeu uma dura repressão
comandada por Trotsky sob alegação caluniosa de que aquele soviete tornara-se
contrarrevolucionário?
16). Posteriormente, Trotsky não foi
expulso do partido e depois da URSS, sob acusação de ser agente do inimigo, tal
qual acontecera com Kronstadt?
17). Em seguida a Trotsky, não foram
caluniados e executados Zinoviev e Kamenev, sob o mesmo argumento?
18). Na sequência desses fatos também
não foi caluniado e executado Bukarin, autor da tese da “construção do
socialismo em um só país”?
19). Por que Vladimir Lenine, vivo, não
rompeu com as resoluções do X Congresso?
20). Por que não reconheceram, Lenine e
Trotsky, a derrota naquele momento da revolução socialista e não promoveram um
recuo tático, de forma a evitar prejuízos tão profundos?
21). Era justo uma “vitória” a qualquer
preço, fundada em um tresloucado voluntarismo que atropelava as mais comezinhas
leis da história?
22). Qual o custo social e político
dessa falsa vitória a ser, hoje, contabilizado?
23). Não dá para concluir que o stalinismo
não foi só um produto da contrarrevolução, como se tornou a sua mais eficaz força
operadora?
24). Seria possível, ao capitalismo exaurido,
gozar de tanta hegemonia política, hoje, sem a convergência das duas grandes
forças da contrarrevolução, quais sejam: a direita explícita e a direita
travestida de esquerda, usando os carimbos de “marxismo-leninismo” ou
“marxismo-leninismo-trotskismo”?
Observamos que
questionamentos não faltam. Diante deles, em nada contribui a fúria dos beatos.
Não deveremos considerar inimigos os que questionam, mas sim, os que se
ausentam dos questionamentos, inviabilizando o livre debate, como sempre
fizeram os diversos agrupamentos stalinistas, sejam eles os ortodoxos, os
maoístas, os kruchevistas, os fidelistas ou os trotskistas dos mais diversos
matizes.